Nasci em 1971. Morando no Rio de Janeiro, aos sete anos de idade descobri que era Flamenguista, com todas as forças do meu ser.
Minha primeira lembrança de Copa do mundo é da de 78, na Argentina. Porém, são lembranças vagas: indo comprar uma bandeira e coisas do tipo. Não tenho lembranças do futebol em si.
Já em 82, com onze anos, me lembro de tudo. Do “Voa canarinho”, do álbum “Ping-Pong”, que foi a maior febre do ano em todas as escolas.
Me lembro do futebol da nossa seleção, que jogava um futebol irretocável, lindo de se ver, que dava orgulho. Um timaço que só não foi melhor do que o Flamengo de 80/81 (comentário totalmente parcial, percebam)…
Mas infelizmente, muitos fatores fizeram com que nossa seleção não se sagrasse a campeã daquele ano, e foi com imensa tristeza que vi Paolo Rossi acabar com nosso sonho do tetra.
A essa altura da minha vida, eu já tinha meu primeiro ídolo: o Arthur.
Arthur Antunes Coimbra. O Jesus rubro-negro. Maior craque Flamenguista, que havia conduzido nosso time ao nível máximo de campeão mundial interclubes, sapecando um humilhante 3×0 contra o Liverpool. Me lembro de que era garoto, e para poder assistir ao jogo, minha mãe, que tinha ido assistir ao jogo com amigos, me ligou para me acordar, pois eu não tinha resistência para ficar acordado até meia-noite.
E foi uma vitória tranquila, fora o baile…
Nessa época, minha mãe dizia que eu não era Flamengo, que eu era Zico.
E os anos se passaram, e chegou a Copa de 86, no México.
Zico estava machucado, e era dúvida se iria à Copa. Havia sofrido uma entrada assassina de um jogador do qual me recuso a dizer sequer o nome, em um Flamengo x Bangu.
Na época, precisou de cirurgia, e as cirurgias de joelho não eram tão avançadas como são hoje. E o resultado não foi dos melhores, e ele foi sofrendo com isso até chegar o ano da Copa.
E como eu ficaria numa Copa do mundo sem o Zico?
Não podia conceber isso.
Na época, estudava no Colégio Santo Agostinho, no Leblon. Como o nome sugere, um colégio católico, que tem anexado a Igreja de Santa Mônica.
E o que eu podia fazer para ver meu maior ídolo participar do maior torneio futebolístico do mundo? Rezar.
E foi o que eu fiz. Durante todo o ano de 1986, antes de cada dia de aula, eu ia à igreja, rezar para ver o Zico jogar a Copa. Todo santo dia, lá estava eu. E não é que Deus me ouviu, e me deu a alegria de vê-lo jogar de novo?
Tenho certeza de que não sou o único que tem esse sentimento por você, Zico.
Hoje, moro em São Paulo, e o que conheço de Flamenguista que nunca pisou no Rio, de torcedor de time paulista que acha que você foi o maior, não dá pra contar.
Sua raça, sua genialidade, a forma de matar a bola, de fazer lançamentos, de bater falta, e ainda fazer muitos e muitos gols, ser decisivo, ser maestro no meio-campo, isso tudo faz com que quem te viu jogar e honrar o Manto Sagrado, sinta saudade de um tempo romântico, em que havia sim, Amor à camisa e identidade com a torcida.
Zico, você é inesquecível, e sempre será o NOSSO REI!
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